quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Blog SDC Entrevista: Carlinhos Veiga

Aproveitando o post feito aqui ontem sobre o Carlinhos Veiga, vamos logo publicar a sua entrevista. Manso como sempre, gentil como sempre, inteligente como sempre, Carlin (como é chamado por alguns) fala sobre a herança musical de sua família, sobre suas inspirações, sobre o momento vivido pela igreja brasileira e, claro, sobre o Som do Céu. Aproveite!


Blog SDC:Olá, Carlinhos! Há quantos anos você está envolvido com a música cristã?
Carlinhos Veiga: Desde os primeiros dias da minha conversão. Janeiro de 1981... Conheci a Jesus num acampamento e lá mesmo já comecei a tocar com o pessoal do grupo musical. Nunca mais saí...

Blog SDC: Sua música é carregada de elementos nacionais. Aliás, de elementos regionais, de Goiás, de Minas... De onde vêm essas influências?
Carlinhos Veiga: Isso tudo veio da influência da minha família. Lembro-me ainda pequeno com meus avós, tios e primos, reunidos em torno de alguns violões, cantando as músicas do meu povo. Às vezes penso que só canto as músicas que canto porque não nasci num lar evangélico. Do contrário cantaria outro tipo de música. A influência familiar foi fundamental. Isso me remete a dois sentimentos contraditórios: a importância de ter conhecido a Jesus somente depois de ter recebido essa bagagem cultural da família; por outro lado muitos dos conflitos pessoais seriam mais abrandados se tivesse nascido numa família cristã de fato e de verdade, e não somente nominal. Mas, creio na soberania de Deus e sei que tudo se fez, da forma como se fez, para glória dEle.

Blog SDC: Você acha que ainda existe espaço para a música brasileira (a música com ritmos realmente brasileiros: samba, bumba-meu-boi,caipira,bossa) no cenário cristão nacional? Como sobreviver ao tsunami de bandas que surgem todos os dias, todas com a mesma cara? E no meio secular? Como levar a música nacional para as pessoas que não se interessam mais por ela?
Carlinhos Veiga: Só existe! Eu particularmente tenho visto que a música nacional tem crescido como nunca. O espaço dela aumenta a cada dia. Para mim isso é o rebote da globalização, onde valores mundiais (na verdade primeiro mundista – aquele que lança os produtos no mercado mundial) deixaram um sentimento de não-pertencimento. O povo está voltando para suas origens, buscando sua identidade no meio dessa massa amorfa mundial proposta pela globalização. A cada dia vejo mais jovens interessados pela música regional, pelo chorinho, samba, bossa nova, baião, caipira e por aí vai... A música-produto, imposta pelo mercado já não conquista todo mundo.

Blog SDC: O que você pensa sobre este momento vivido pela igreja, com esta supervalorização da música em detrimento à palavra? E qual é a sua reação ao ver as loucuras feitas por alguns crentes em cima de um palco ou púlpito?
Carlinhos Veiga: Causa, não só em mim, mas em todo crente sincero, espanto e indignação. Mas deixa estar. Tem alguém que é o juiz sobre tudo e todos e ele também está vendo tudo isso. Só peço a ele graça e misericórdia sobre mim, para que eu não me pegue fazendo as mesmas coisas que hoje condeno. Tem muita gente condenando, mas reproduzindo o mesmo em seus guetos.

Blog SDC: O que você gostaria de dizer para a nova geração de músicos que surge nas igrejas do Brasil?
Carlinhos Veiga: Conheçam a Jesus como seu Senhor e Salvador verdadeiramente. Tenha experiências profundas com a Palavra de Deus. Permita-se ser transformado pelo Espírito, negando-se a si mesmo a cada dia e tomando a sua cruz. Não se deixe seduzir pelo deus-mercado, também chamado de Mamom, o deus das riquezas. Assuma a sua vocação de Servo Sofredor, pois foi esse o modelo deixado por Jesus para os seus seguidores, seus discípulos. Depois, faça um som bonito, reflexo de uma vida transformada.

Blog SDC: Quem (ou o que) te inspira a fazer música hoje?
Carlinhos Veiga: A vida e a obra de muitos escritores e músicos que estão dentro e fora da igreja. Pode parecer estranho, mas é verdade. Isso porque vejo muita sinceridade e coerência em gente fora da igreja, como também vejo em gente dentro da igreja. Nem tudo está perdido... nem fora, nem dentro. A graça comum ainda se manifesta (e sempre se manifestará). Gosto de ler os autores ligados à Missão Integral da Igreja (René Padilla, Samuel Escobar, Rick Watts, Robinson Cavalcante, Ricardo Barbosa, etc) e ouvir música popular brasileira de qualidade feito pelos irmãos da igreja. Mas também me delicio lendo e ouvindo alguns de fora. Ultimamente não canso de ouvir Tavinho Moura e Fernando Brant.

Blog SDC: Você pode nos dizer algo sobre a importância de um evento como o Som do Céu completar 25 anos ano que vem?
Carlinhos Veiga: Vejo como uma vitória de todos nós. O Marcelo Gualberto teve uma idéia sensacional, como sempre, e isto em 1984. Dá para imaginar? O Som do Céu existe quando ainda não existiam MSN, Orkut, Myspace... Num tempo onde telefone celular era coisa para pouquíssimos ricos. Onde o CD ainda não havia chegado no meio evangélico brasileiro. Era só vinil – os lendários “bolachões”. Lembro que nessa época a gente gravava com muita dificuldade e depois ficava esperando um tempão as gravadoras fazerem os “cortes” – algo que antecedeu a masterização, e as prensagens. Demorava até seis meses. Tudo era muito mais difícil, mas muito mais prazeroso. O mundo evoluiu, a igreja caminhou e o Som do Céu se modernizou. Conseguiu acompanhar o ritmo dos tempos sem perder seu swingue e sua jinga. É maravilhoso ver isso tudo acontecendo. Sinto-me um privilegiado em ter pisado tantas vezes o palco desse evento singular no Brasil, que tem resistido a todos os modismos que aportam em nosso país. Os grandes eventos vão e vem – são como os fogos de artifício que enchem os céus e explodem em cores e beleza. Mas explodem e acabam. O Som do Céu permanece, não tão vistoso, nem tão glamoroso. É como a lua, às vezes imperceptível, mas sempre presente, guiando aquele que caminha na noite escura dos modismos, como um referencial. Tudo isso pela graça e misericórdia de Deus.

Blog SDC: Deixe um recado para as pessoas que estarão lá no SDC 2009.
Carlinhos Veiga: A festa vai ser maravilhosa. Eu, se Deus quiser, estarei por lá. Espero te encontrar para conversarmos, nem que seja um pouquinho só. Paz em Jesus!

Um comentário:

Anônimo disse...

Disse tudo, Carlinhos!

os músicos de hoje precisam conhecer a Jesus! Nem que para isso eles tenham que parar de tocar!
Abração a todos, valeu pelo blog! Tá muito bacana!

Pedro - RJ