domingo, 12 de outubro de 2008

Uma crônica do Som do Céu

por Jorge Camargo

publicada na Revista da Tchurma Dezembro/Janeiro 1999



Dois adolescentes amigos, de alguma cidade desse país conversam sobre o que farão no próximo feriado de Páscoa:

- E aí, vamos pro “Som do Céu”?
- “Som do Céu”, que é isso?
- É tipo um “Woodstock” evangélico.
- “Woodstock”...?
- É. Meu pai disse que em 69, nos Estados Unidos, teve um evento de vários dias reunindo bandas “da hora”, numa fazenda enorme...e que foi um grande “auê”.
- E esse “Som do Céu” é assim?
- Bom, é mais ou menos. Vem uma moçada do Brasil inteiro, muitos ficam em barracas, num lugar tipo sítio. A gente se reúne debaixo de uma lona de circo, ouve várias bandas...
- E as menininhas?
- De montão, cara, de montão!
- Indispensável, mano, indispensável! Diz aí, e as bandas, são legais?
- Quase nenhuma a gente ouve tocar no rádio ou vê nos programas “gospéis” na TV, mas, sabe que quando fui a primeira vez no ano passado fiquei surpreso? Foi o maior barato, cara!
- Olha lá, hein? Não quero perder meu final de semana ouvindo “tralha”...
- “Tralha” por “tralha”, prefiro arriscar ouvir o que não conheço...quem sabe ouço algo de bom, diferente do que rola no meio...?
- Isso lá é verdade. E por que será esse nome “Som do Céu”?
- Ah, esse é o grande barato do evento, mano! Lembro que cheguei lá, na Quinta Feira Santa, tava pra lá e “down”...tinha brigado com a namorada, mãe, pai, papagaio, cachorro...aos poucos fui me enturmando. Tinha uma moçada super receptiva, amiga fui me abrindo... é como se o som que rolasse no palco fosse além dele mesmo. O Marcelo Gualberto, o “big boss” do acampamento, falou na noite de abertura sobre a necessidade da gente ouvir esse “som que vem do céu” dentro do coração... parecia um pouco a pregação de Domingo à noite aqui na igreja, mas, não sei, foi diferente, tinha um calor especial, era cheia de... amor!
- Nossa cara, nunca te ouvi falando assim!
- Pois você não viu nada! Juntando com o som das bandas, estórias que ouvi de muitos lá na frente – algumas igualzinhas às nossas – fui deixando meu coração se amolecido. Lembro que no final não agüentei. Foi um apelo que fizeram pra que entregássemos nossas vidas a Deus... levantei, abracei um amigo do lado que fiz naqueles dias, e chorei. Chorei com naquela primeira vez que nos abraçamos na igreja, ainda molecotes no apelo do pastor, lembra?
- Ô se lembre! Por mais que tentasse esquecer, jamais poderia...
- Pois é... O “Som do Céu” é isso e muito mais!
- Tô nessa, mano...Já fui!
- Posso fazer a reserva em nosso nome?

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