quinta-feira, 24 de julho de 2008

Som do Céu 25 Anos

por Carlinhos Veiga

Tenho o privilégio de ser o músico que mais vezes pisou no palco do Som do Céu. Só não participei do primeiro. Na época o Conjunto da MPC Goiânia, que depois veio a se chamar Expresso Luz, não havia sido convidado. Naquela edição participaram os grupos Rebanhão (ainda com o Janires), Logos, Vozes da Promessa e Quarteto Vida. Não fui, mas fiquei sabendo da repercussão do evento. No ano seguinte o Marcelo Gualberto nos convidou, como uma forma de incentivo a um dos grupos musicais da missão.

Lembro-me como se fosse hoje. Quando chegamos no Acampamento da MPC, em São Sebastião das Águas Claras (MG), na quinta-feira santa de 1985, vimos um circo colorido montado no estacionamento. Lá dentro um palco com muitos microfones, raridade para a época, muitos instrumentos e equipamentos. Tinha até um Tremendão! Na platéia centenas de cadeiras iluminadas por aquele tom avermelhado do reflexo colorido da lona. Estávamos nervosos, pois dividiríamos o palco com grupos de nossa profunda admiração. Cantar num mesmo evento que o Logos e o Rebanhão era privilégio impensável para nós do Centro-Oeste, numa época em que as distâncias pareciam maiores do que hoje e onde o que repercutia no Brasil era somente aquilo que acontecia no eixo Rio-São Paulo. Preciso lembrar que nessa época não conhecíamos a internet (e conseqüentemente MSN, Orkut, Myspace, Youtube e afins), nem telefone celular. Não havia TVs evangélicas, eram poucas as rádios cristãs, instaladas somente nas cidades onde a igreja tinha alguma força. Nessa época o movimento gospel com sua geração de infindáveis bandas estava apenas surgindo. Renascer, Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça, entre outras neopentecostais, que ocupam e já ocuparam a mídia, estavam começando sua caminhada. Era tempo onde as Comunidades Evangélicas ditavam os louvores, dividindo o cenário da música cristã no Brasil com Vencedores Por Cristo e Logos, em São Paulo, e Rebanhão, no Rio de Janeiro.

Foi nesse contexto que nos vimos convidados a participar de um evento de repercussão nacional. Dá para imaginar a nossa expectativa! Era tudo muito novo e muito desafiador. Nem nos dávamos conta do que Deus estava fazendo, tornando o Som do Céu um movimento de resistência diante de tudo o que a igreja passaria nos anos seguintes.

Os anos se passaram e o Som do Céu seguiu firme na estrada. Somente pela graça de Deus que um evento dure tanto tempo e com tanto vigor, passando pelas diversas mudanças acontecidas no país, sem perder a sua identidade.

Nesse palco tive o privilégio de ver muito artista surgir e realizar um ministério relevante. Vi também o ocaso de vários grupos e artistas, infelizmente. E, de tudo isso, aprendo e reaprendo, ano após ano, que o Senhor espera de nós fidelidade em tudo que realizamos, vida santificada e separada, pois esse é o verdadeiro louvor que o agrada.

Agora vejo a MPC às portas de comemorar os 25 anos de Som do Céu. É uma alegria para todos nós, para toda a igreja. Como o tempo voa...

Nesses dias me dei conta que a maioria das Páscoas de minha existência foram no Som do Céu. No primeiro que participei era solteiro. Depois me casei com a Cláudia e seguimos participando. Prá lá levamos todos os nossos filhos desde pequeninos; o Pedro, por exemplo, foi pela primeira vez aos 2 meses de idade. Agora, em 2008, pisou os palcos integrando duas bandas: a Sondafé, banda da qual participa como baixista, e a banda que me acompanha. Acho que não há maior alegria para um pai do que ver seu filho frutífero no ministério concedido pelo Senhor.

Às vezes paro para pensar na grande contribuição que o Som do Céu trouxe até aqui para a igreja brasileira e louvo a Deus. Esse acampamento acabou se tornando num espaço de contra-cultura gospel, diferente do que se vê por aí, pelo país. O que era um evento tomou a forma de um movimento, não planejado, não institucionalizado, não regulamentado – de evento em vento – coisas do Espírito. Seus sons reverberam pelos quatro cantos: Som do Cerrado (primeiramente em Uberlândia e depois em Goiânia), Som do Sertão (Caruaru, PE), Nossa Música Brasileira (Arujá, SP, promovido pela missão Jovens da Verdade) e agora, mais recentemente, Som da Serra (Palmas, TO). Isso sem contar outros tantos programas, blogs, sites, revistas, jornais, CDs, inspirados na filosofia e teologia do SDC.

Esse acampamento tem sido um espaço para se respirar um ar diferente, ouvir um som diferente e curtir um companheirismo diferente. Um lugar onde fé cristã e brasilidade se integram de maneira natural; onde a doentia dicotomia existente entre o evangelho e a vida cotidiana são diminuídas. Tudo isso porque ali o que se vê e o que se ouve são demonstrações práticas de que podemos viver nesse mundo de maneira coerente, sob o governo de Cristo Jesus. A cabeça nos céus, mas os pés nesse chão. E que venha o Teu Reino!

Não posso terminar esse texto sem honrar a pessoa do Marcelo Gualberto, que juntamente com o Janires, na década de 80, idealizou o Som do Céu. Agradeço a Deus pela vida desse grande amigo e companheiro de sonhos no Reino de Deus que nunca se deixou abater pelas críticas, muitas vezes ferinas, pelas dificuldades financeiras da missão, pelas indisposições e intolerâncias de tantos artistas, pelos contratempos, pelas inscrições sempre feitas de última hora, pela insensibilidade de líderes eclesiásticos, e por tantos e tantos outros percalços. É, meu amigo... “quem sai andando e chorando enquanto semeia, voltará com júbilo trazendo os seus feixes”. Obrigado por não desanimar. Sei que o Senhor tem te fortalecido. Temos ainda muito por fazer, pois como você mesmo diz, “o melhor está ainda por vir”.

Quem participa do Som do Céu volta renovado, animado e cheio de vigor para caminhar mais um tanto. Peço a Deus que o dê ainda fôlego longo, para a alegria de todos nós e pelo bem da arte produzida por cristãos no Brasil.

Felicidades, Som do Céu!

2 comentários:

Anônimo disse...

Carlinhos...
que delícia ouvir essas histórias e lembrar dessa época tão boa. Ano que vem estarei lá, com certeza!

Tata Batera disse...

Acho que o Carlinhos conseguiu expressar, em suas breves palavras, o que sentimos quando estamos no SDC e quando voltamos.
O SDC realmente nos dá ânimo para continuar.
Que Deus continue abençoando esse acampamento...